segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O Avião

O Avião


Ainda estava doendo muito, mas eu não ligava mais.
- É só mais uma espetadinha – disse a enfermeira, uma moça muito boazinha.
- Pode dar, eu aguento – falei.
- Etá moço corajoso – ela falou olhando para minha mamãe.
É, mamãe estava lá, sorrindo como sempre e orgulhosa de minha coragem. Adorava mamãe, ela nunca saia de perto de mim.
- Você quer ver meu desenho? – perguntei para a enfermeira.
- Quero sim, deixa eu ver.
Eu então mostrei a ela meu aviãozinho.
- Nossa, ficou lindo.
- Eu vou embarcar nele essa noite.
- E para onde você vai?
- Não sei, só sei que é longe.
- Menino corajoso, vai viajar para longe e sozinho.
- Não vou sozinho, esse avião vai sempre cheio, ele leva criancinhas do mundo todo.
Mamãe prestava atenção a nossa conversa, mas estava com um olhar bem triste.
- Que foi mamãe?
- Nada não filhinho, é bonito ver você falar assim, mas agora eu vou lá fora buscar uma água tá bem, continua conversando com a enfermeira.
- Tá bem mamãe.
A enfermeira olhou para mamãe, elas trocaram um olhar que eu não entendi muito bem.
- Então seu voo sai hoje né, eu não posso ir junto?
- Pode não, o capitão falou que nessa viagem só vão as crianças, mas todo mundo vai embarcar um dia.
- Hmmm, e não está com medo da viagem?
- Tô nada, o capitão falou que nós vamos para um lugar bem melhor que aqui. Enfermeira, eu estou com sono.
- É o remedinho, é só para você não sentir mais dor, eu vou indo agora, depois a gente conversa mais.
- Depois eu já terei embarcado, vai ter que correr.
- Tá bem, eu corro para me despedir de você, mas se não der tempo quero que faça uma boa viagem.
- Obrigado, deixa um beijo na mamãe, diz pra ela que eu gosto muito dela tá.
- Tudo bem, eu digo.
Eu não aguentei de sono e dormi um pouquinho, quando acordei vi mamãe do meu lado, ela dormia muito, dei um beijinho nela e me levantei, peguei meu desenho e sai do quarto. No corredor do hospital minha amiguinha Renata me aguardava.
- Oi, já está na hora do voo.
- Eu sei, vamos lá.
Deixei o desenho no chão, o avião saiu do papel, já estava cheio de crianças, crianças do mundo inteiro.
- Todos a bordo – disse o capitão, um sujeito de cabelos e barba comprida, muito gentil.
Eu e Renatinha embarcamos e já começamos a brincar com as outras crianças. Nunca me senti tão feliz.
O avião levantou voo e partiu nos levando dali para um mundo de sonhos, sem dor e sem tristezas.

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