domingo, 13 de novembro de 2011

Uma Viagem Diferente


Era uma vez um menino que descobriu como viajar sem sair de casa,
Mas como ele matou essa charada?
Fácil, achou um livro na estante
Na verdade um passaporte para um reino muito distante
Era um reino de sonho e fantasia
Onde reinavam a felicidade e a harmonia
E quando mais o menino viajava
Mais e mais ele se encantava
Havia coisas que ninguém iria acreditar
Não duvide, ele viu até elefante voar
E em uma floresta encantada
Encontrou três porquinhos fazendo feijoada!
Depois que o menino voltou
Disseram que ele sonhou
E mesmo que achassem loucura
Aquele sonho tinha sido uma aventura.

A Menina e o Passarinho

A menina viu uma abelha em uma flor e quis pegar, mas aí o passarinho lhe falou:
“Cuidado com a mão, essa abelha tem ferrão!”
A menina viu uma cobra e quis brincar, mas aí o passarinho lhe falou:
“Menina não seja teimosa, essa cobra é venenosa!”
A menina viu um bicho no lago e quis na água entrar, mas aí o passarinho lhe falou:
“Cuidado com seu pé, pode ser sapo ou jacaré!”
Para todo lado que a menina se enfiava o passarinho a vigiava.
“Ah sua avezinha danada, não me deixa fazer nada!”
”Calma menininha, eu só quero lhe ajudar, mas agora vai embora, sua mãe já vai chegar e trás um presente para te dar.”
O passarinho então voou assim que mamãe chegou.
A menina sorridente já foi pedindo seu presente.
“Mas como sabe do presente?”, a mamãe perguntou.
“Ah mamãe, foi um passarinho que contou!”

A Volta das Bonecas

  A Volta das Bonecas

 
     Você talvez não se lembre de Sabrina, Vivi e Brutus, eles apareceram aqui pela primeira vez em uma história chamada “A Revolta das Bonecas”, naquela ocasião graças ao desejo de uma menina chamada Patrícia as bonecas ganharam vida e Brutus falou. Já faz um tempinho que eu queria dar vida a essas bonecas novamente, mas não sabia como, até que comecei a escrever a história a seguir. Ela ficou um tanto quando longa para um conto infantil, mas esses são alguns de meus personagens preferidos e eu acho que merecem cada letra. Se tiver ânimo boa leitura!

     Patrícia e seu irmão Gustavo viviam felizes há muito tempo, apesar de já estarem bem crescidinhos eles ainda tinham tempo de brincar um com o outro e correr atrás do velho cachorro Brutus. Até os brinquedos eles ainda usavam, e os preferidos eram as duas bonecas de pano Vivi e Sabrina. Gustavo jurava por que jurava que aquelas bonecas já andaram e falaram um dia, aliás, Gustavo jurava que o próprio Brutus já tinha falado!
     Patrícia ria das histórias do irmão, mas por dentro sabia que havia um certo mistério por trás de suas palavras. Como explicar que Gustavo, antes uma peste, era hoje seu melhor amigo? E como explicar que Brutus, antes um destruidor de coisas, fosse hoje o cão mais fiel do mundo? E havia ainda as bonecas, por mais que o tempo passasse elas pareciam sempre novinhas e Patrícia nunca mais teve que costurá-las.
     Porém esse mistério pertencia à infância e conforme os dois irmãos cresciam todas essas histórias foram se perdendo, as lembranças agora eram apenas sonhos que remetiam a um tempo que não voltaria mais. O velho cão Brutus foi ficando de lado, sem ninguém para brincar já que Gustavo agora curtia a juventude com seus amigos, já não tinha muito mais energia e vivia deitado pela casa, e as bonecas agora se encontravam enfeitando o armário de uma Patrícia adolescente. Aquela casa antes tão feliz ia ficando um pouco mais fria, os dois irmãos brigavam novamente um com o outro, não as briguinhas dos tempos de criança, mas discussões sem significado e feias.
     Os pais de Patrícia e Gustavo sentiam que estavam perdendo seus filhos, sentiam falta do tempo em que eles eram inocentes. Mas o que fazer? Era uma fase da vida, adolescência e rebeldia.
    Mas havia alguém naquela casa que não estava gostando nem um pouco daquela situação. Era Brutus. Muitas vezes Brutus tentou falar de novo, mas nunca foi ouvido, a opinião de um cachorro velho não importava muito pelo jeito. Então Brutus ia até o quarto de Patrícia e tentava falar com as bonecas, mas também não conseguia, era como se elas estivessem em um sono profundo.
     Aconteceu de colocarem Brutus mais uma vez para dormir do lado de fora. E lá ele ficava tristonho e todas as noites contemplava as estrelas com a esperança de fazer um pedido, mas ele já não enxergava tão bem, as estrelas cadentes cruzavam o céu e ele não as via.
     Mas foi em uma noite dessas que algo estranho aconteceu, enquanto Brutus vazia sua vigia diária das estrelas ele escuta uma vozinha chamar lá de baixo:
     - Ei Senhor Cachorro!
     Brutus olhou e olhou, mas nada viu.
   - Ei Senhor Cachorro, olhe para cá, estou aqui. – disse a vozinha de novo.
     Então Brutus procurou, procurou até que achou um pequeno grilo. O cachorro achou que estivesse maluco. Um grilo falante? Como pode ser?
     - Diga alguma coisa Senhor Cachorro – falou o grilo.
     Brutus abriu a boca e disse:
     - Eu não sei falar, pelo menos ninguém me escuta.
     - Ora – disse o grilo – como não sabe se eu ouvi muito bem?
     Brutus então se deu conta que voltara a falar, ou pelo menos tinha encontrado alguém que podia entendê-lo.
     - Mas como é que pode? – se surpreendeu ele – já faz muitos anos que ninguém entende o que eu falo.
     - Mas o problema não é seu Senhor Cachorro, o problema é das pessoas que fecharam os ouvidos e o coração para as coisas boas da vida, como a importância de um amigo.
     O cachorro refletiu um pouco e disse:
     - É, já tive amigos nessa casa, eram duas crianças, mas hoje elas cresceram e perderam o encanto de outros tempos. E outras duas amiguinhas que tive, duas bonecas, hoje estão sobre um sono profundo, como se fosse um feitiço.
    - Ora, ora Senhor Cachorro, certa vez também conheci um boneco que vivia em um sono profundo, mas ganhou vida.
     Brutus viu uma ponta de esperança nas palavras do grilo.
     - Verdade? Mas como ele ganhou vida? Qual a mágica especial para fazer isso?
     - É o amor Senhor Cachorro, o amor pode fazer coisas incríveis quando é verdadeiro. Se ainda existe amor, existe esperança.
     - Não sei se o amor ainda existe nessa casa Senhor Grilo, acho que ele há muito tempo se foi – Brutus estava muito triste.
     - Não chore Senhor Cachorro, algumas pessoas ainda amam, mas não sabem como demonstrá-lo, mas corre-se um risco: é a prática do amor que o alimenta. Tenho visitado essa casa há muito tempo e vejo que o amor aqui não é praticado, desse jeito o amor acabará morrendo.
     - Mas como faço para isso não acontecer Senhor Grilo?
     - Ainda existe amor verdadeiro em seu coração e no coração das bonecas Senhor Cachorro, use-o para desperta-las, pratiquem juntos o amor e essa casa voltará a ser feliz. E o grilo começou a pular para longe.
     - Espere Senhor Grilo! – gritava Brutus – Como farei isso?
     - Peça Senhor Cachorro, peça e receberá! – e o grilo se afastou de vez e desapareceu na escuridão.

 
     Brutus então ficou sozinho e começou a pedir baixinho:
     - Vivi, Sabrina, pela força do amor eu peço que voltem. Vivi, Sabrina, pela força do amor eu peço que voltem. Vivi, Sabrina, pela força do amor eu peço que voltem… - e repetiu isso por toda a noite até não poder mais. Por fim ele se cansou e se deitou sobre o chão.
     - Não adianta – lamentou-se ele.
     Mas então ele conseguiu ver uma estrela cadente no céu! Ele acompanhou admirado a estrela se aproximar, ela possuía um brilho azul muito bonito e parecia que estava cada vez mais perto. Estava descendo!
     Brutus não ficou com medo, era um cão corajoso. A estrela se aproximou mais e mais e ele teve uma surpresa: não era uma estrela, era uma fada, uma Fada Azul!
     - Olá meu pobre e nobre cão, vim atender seu pedido – disse a fada.
     - É você que deu a vida ao boneco que o Senhor Grilo falou?
     - Sim sou eu mesma, o nome dele era Pinóquio, mas eu fui apenas o instrumento, a verdadeira vida veio do amor do pai dele, Gepeto. E agora eu vou usar o seu amor para dar vida a quem você tanto quer reencontrar.
     A fada fez um movimento com a farinha e plim!
     - Pronto Brutus, mais uma vez o milagre aconteceu! – e a fada subiu de novo aos céus e foi se juntar as estrelas.

 
     Brutus ficou contemplando o céu em busca da fada, até que ele ouviu uma outra voz, essa era conhecida e ele não ouvia há muito tempo:
     - Nossa Brutus, como você ficou velho e sarnento, que horror!
     Pela petulância ele sabia que só podia ser uma pessoa:
     - Sabrina! – gritou ele de alegria.
     - E ela não veio sozinha – ouviu-se a voz de Vivi.
     - Vivi! – gritou mais uma vez Brutus, e sem se conter cobriu as duas bonecas de lambidas e abraços.
     - Calma Brutus – falou Sabrina – a gente também sentiu saudade, mas não precisa nos lambuzar de baba de cachorro não.
     - Deixa ele Sabrina – respondeu Vivi – foi graças a esse amor que voltamos.
     - Nossa meninas – Brutus era só emoção – vocês não sabem a falta que me fizeram, não sabem como estou feliz em vê-las. As coisas mudaram tanto depois que as crianças cresceram.
     - Nós sabemos de tudo Brutus, mas não podíamos nos intrometer, as crianças não são mais crianças, nossa magia não funcionaria mais com elas – disse Vivi.
    - Não? – questionou Brutus – mas então o que faremos?
     - Não se preocupe Brutus – era Sabrina – já demos uma lição neles antes e daremos de novo. Eles só precisam acreditar.
     - Acreditar em quê? – perguntou mais uma vez o cachorro.
     As duas bonecas responderam em coro:
     - Acreditar no amor!
     Os três companheiros voltaram para dentro de casa e a pedido de Sabrina Brutus latiu sem parar até acordar a todos, inclusive os pais de Gustavo e Patrícia.
     As quatro pessoas desceram para sala esbravejando com o pobre cachorro:
     - Cala a boca cachorro fedorento!
     - Me deixa dormir! - Fica quieto Brutus!
     - Para com isso cachorro maluco! E muitos outros insultos.
     Mas Brutus permaneceu firme até todos estarem presentes. Foi só quando os quatro estavam diante deles foi que ele parou.
     - O que está acontecendo aqui? – perguntou o pai.
     - Como ele entrou? – perguntou a mãe.
     - Eu quero dormir – disse Patrícia.
     - Você só dorme – criticou Gustavo.
     - Olha quem fala – a irmã começou a provocar.
     E se iniciou a maior discussão. Até que:
     - Parem!
     De quem era aquela voz? De todos na sala só Gustavo a reconheceu.
     - Brutus! Você voltou a falar!
     Patrícia então se lembrou das histórias do irmão, do mistério que as envolvia e voltou no tempo.
     - Então era verdade! Brutus fala! Mas se Brutus fala então…
     - A gente também fala Patrícia – ia dizendo Sabrina que surgiu por detrás do cachorro.
     - E voltamos para ajudar vocês – era Vivi que apareceu do outro lado.
     - Meu Deus, eu estou sonhando – disse a mãe.
     - Não querida, eu que estou – falou o pai.
     Os quatro estavam tontos. Como era possível ser verdade o que viam?
     - Sentem-se todos – ordenou Brutus, e numa inversão de papéis as pessoas obedeceram ao comando do cão. – há muito que ser dito.
     - Vocês quatro nunca o ouviram, mas Brutus sempre tentou falar com vocês – era Sabrina.
     - E sabe por que não ouviram? – completou Vivi – porque o coração de vocês endureceu tanto que se esqueceram do que realmente importa nessa vida: o amor.
     - E sem amor nossos ouvidos se fecham – disse Brutus – por isso nessa casa ninguém mais ouve ninguém, todos estão ficando distantes. Aos poucos tudo que era bom e bonito nesse lar vai se acabando.
     A mãe de Gustavo e Patrícia ainda não acreditava no que via, mas começou a sentir seu coração bater mais forte, como se um desejo antigo estivesse se realizando. O pai, ainda atônito, ouvia as palavras com atenção, na verdade ele sempre quis dizer aquilo mas nunca conseguiu.
     - Crianças – disse Vivi olhando para os dois jovens – crescer trás um pouco de independência, mas isso não significa que devemos abandonar o próximo e nos tornarmos individualistas, crescer na verdade trás mais responsabilidades, devemos cuidar do outro e não abandoná-lo e menosprezá-lo.
     - Ser mal pode ser até um pouco bom às vezes – falou Sabrina – mas isso tudo é ilusão, maldade só alimenta maldade, trás tristeza para quem a sofre e quem a prática. A única coisa que faz bem é o amor, amor verdadeiro.
     - E aquele que ama – recomeçou Brutus – aprende isso todos os dias. Para amar um ser humano é preciso praticar o amor.
     - Praticar o amor com os animais – disse Vivi olhando para Brutus – com os pais, com os irmãos e até com os seus brinquedos.
     - Até hoje a família de vocês andou esquecida do amor – disse Sabrina – mas a partir de agora isso não mais acontecerá, o amor voltará a essa casa.
     Os quatro seres humanos escutavam aquelas três criaturinhas com atenção, a emoção tomou conta de todas, eles choravam e se abraçavam.
     - Desculpa meus filhos – falou o pai.
     - Eu que peço desculpa a minha família – disse a mãe – lembramos de dar tanta coisa a vocês e o principal que é o amor nós não demos.
     - Não pai, não mãe – disse Patrícia – nós é que nunca retribuímos o amor que nos deram.
     - Isso – agora era Gustavo – e eu principalmente, foi preciso que as bonecas voltassem para eu entender o que é amar uma família.
     Enquanto a cena se desenrolava, Vivi, Sabrina e Brutus iam saindo pela porta.
     - Aonde vocês vão? – quis saber Patrícia.
     - Nós vamos embora, nossa missão terminou – respondeu Vivi.
     - Embora? - perguntou Gustavo – mas irão voltar né?
     - Nós não precisaremos voltar – disse Sabrina – não será preciso, vocês sabem agora o que fazer.
     - Isso – agora era Brutus – nosso trabalho terminou, agora é hora de partir.
     - Peraí! Você vai também Brutus? – Patrícia começou a chorar.
     - Sim menina Patrícia, vocês não me verão mais.
     - Mas por quê? – quis saber Gustavo.
     - Vejam, eu sou um cão muito velho, vocês mesmos disseram isso muitas vezes. Meu tempo nesse mundo acabou, agora devo terminar meus dias de cachorro e partir com as bonecas em busca de outras pessoas que não sabem o que é o amor.
     Toda a família amava Brutus e descobriram isso quando o cão disse essas palavras, logo os quatro o abraçaram. Até Sabrina, geralmente bem carrancuda, chorou. As bonecas também se despediram de todos, deram um abraço especial em Patrícia a quem serviram por muitos anos.
     - Adeus – disseram elas – não se esqueçam nunca do que aconteceu essa noite e propaguem o amor pela terra inteira!
     O três saíram pelo quintal, então uma luz azul desceu do céu e os envolveu e eles desapareceram como por encanto. A família voltou para dentro de casa e ficaram horas conversando um sobre o outro, finalmente eles que sempre viveram juntos se conheceram de verdade e dali para frente o amor sempre imperou naquele lar. Quanto a Brutus e as bonecas, talvez eles estejam no mesmo lugar de onde vem as fadas e os grilos falantes e talvez eles apareçam por aqui de vez em quando sempre que o amor dos homens esfriar. 


 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Meu Pequeno Dom Quixote


Sábado de manhã, tempo frio e chuvoso e eu ali sentado na sala assistindo TV sem nada mais interessante para fazer, isso até aquela vozinha lá debaixo clamar com força:
- Hoje quero ser cavaleiro! – me disse o menino.
Olhei para baixo e vi meu pequenino com um chapéu de papel na cabeça (chapéu de marinheiro, mas não ia estragar a brincadeira) e brandindo uma colher na mão feito uma espada.
- Mas todo cavaleiro precisa de um cavalo – disse eu.
Por um instante meu pequeno cavaleiro se entristeceu:
- Ah papai, a gente não tem cavalo.
Arrependido do mal que fiz, logo dei um jeito de reverter à situação:
- Como não? A gente tem sim um cavalo – os olhos dele brilharam de novo.
Fui até o armário da cozinha e pequei a primeira vassoura que vi pela frente.
- Tome nobre cavaleiro, seu fiel cavalo Rocinante.
- Rocinante? Que nome feio papai.
- Mas esse é um famoso alazão espanhol meu filho, só os mais bravos entre os bravos podem montá-lo.
- Oba! Então vem aqui cavalinho!
Pronto. A aventura já podia começar.
- Tloc, tloc, tloc... vamos cavalinho, vamos cavalinho.
- Filho eu posso ser seu escudeiro?
- Escudeiro, o quê que é isso papai?
- O escudeiro é aquele que acompanha o cavaleiro em suas andanças e aventuras, ajudando-o em momentos de perigo.
- Oba! Pode sim papai.
- Mas agora eu não sou mais papai, pode me chamar de Sancho Pança!!
- Hehehe, hehehe – meu cavaleiro começou a rir sem parar.
- Oh, por que ristes nobre amo? – ele fez uma carinha de quem não entendeu nada e eu repeti a pergunta – do que você tá rindo meu filho?
- E que esse nome que você inventou combina mesmo com seu barrigão, Sancho Pança, hehehehe. – bem, as crianças são sempre sinceras.
Mas enfim partimos em nossa jornada pela casa em busca de aventuras.
Ao passar pelo quarto mamãe ainda estava deitada na cama sob o edredom.
- Veja meu filho – disse eu – aquela não é a adorável dama Dulcinéia que dorme sobre o encanto de um malvado feiticeiro?
- Sim Sancho, vamos salva-la, mas cuidado com aquele dragão vigiando a donzela. Rocinante! Avante.
E lá fomos nós. Meu amo e cavaleiro retirou num só golpe o grande Dragão Edredom de cima de Dulcinéia e o golpeu com sua espada mágica.
Dulcinéia assustada e sem entender nada despertou de seu sono encantado.
- Mas o que as duas crianças estão aprontando?
O cavaleiro logo se pôs a frente e tranqüilizou a donzela:
- Princesa Dulcinéia, a gente te salvou do Dragão Edredom!
- Princesa Dulcinéia? – ela perguntou, nisso eu rapidamente pisquei um olho para ela – ah sim- ela disse entrando em nosso sonho – obrigado Cavaleiro da Alegre Figura, para sempre lhe serei grata por tamanho heroísmo, merece um beijo.
E assim o cavaleiro recebeu seu troféu!
- Agora tenho que ir princesa – disse o cavaleiro – tenho muitos perigos para enfrentar e princesas para salvar. Rocinante! Avante!
- Adeus cavaleiro, cuidado com os perigos e você Sancho Pança cuide bem do meu amado!
E como nos contos de Cervantes partimos em busca de novas aventuras. Tudo bem que nossos gigantes não eram moinhos e graças a Deus nosso cavaleiro não era triste, mas o que importava mesmo era entrar na fantasia de uma criança e resgatar de dentro da gente esse pedacinho da vida onde a imaginação comanda e o importante é ser feliz.
E avante Rocinante!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A Revolta das Bonecas

Patrícia é uma menina divertida e sua maior alegria é brincar com suas bonecas. Mas havia Gustavo o seu irmãozinho, e a maior alegria de Gustavo era judiar das bonecas de Patrícia.
Gustavo roubava as bonecas e as jogava para Brutus, seu cachorro, que as mordia sem dó.
Isso fazia Patrícia chorar muito, principalmente quando as bonecas eram Vivi e Sabrina que tinham a cabeça de plástico e o corpo de pano. Coitadas, eram sempre costuradas e recosturadas.
O pior é que o danado do Gustavo não recebia castigo algum, a culpa ia toda para Brutus que tinha que passar as noites dormindo sozinho no quintal por causa de sua mania de mastigar bonecas.

Mas chegou uma noite que Patrícia não conseguiu costurar mais suas bonecas, não havia onde colocar mais pontos! Ela percebeu que havia perdido suas bonecas favoritas assim como havia perdido as outras, cheia de tristeza ela foi até a janela e chorou muito, e foi entre lágrimas que a menina olhou para o céu e viu uma estrela cadente cruzar o espaço. Patrícia não pensou duas vezes e fez um desejo: queria suas bonecas de volta, lindas como no dia em que foram compradas e que seu irmão nunca mais utiliza-se Brutus para feri-las. Depois disso ela enxugou as lágrimas, deixou Vivi e Sabrina no chão e foi dormir.
E foi a noite que o milagre aconteceu!
- Levanta daí! – disse Sabrina.
- Já estou indo. – Vivi ainda estava tentando se acostumar com suas pernas de pano.
- Estamos lindas não é? Olha como estou novinha. – Sabrina não parava de se olhar, era toda vaidosa.
- É, eu sei, mas vamos logo, temos pouco tempo. – Vivi sempre foi mais prática.
Sem fazer nenhum barulho as duas abriram a porta e saíram para o corretor em direção ao quarto de Gustavo. Conseguiram entrar facilmente e pularam para a cama de seu carrasco.
Foi um sacode daqui, sacode de lá, até Gustavo acordar.
- Ô mãe ô, quero ir na aula hoje não. – era assim que ele acordava todos os dias.
- Que aula que nada menino! – Vivi gritou no seu ouvido – Levanta daí vai!
- E rápido!Temos pouco tempo, vamos, vamos – Sabrina completava o coro.
Gustavo abriu os olhos e deu com aquelas figurinhas olhando para ele. Eram as bonecas da sua irmã! Mas estavam novinhas, como pode? E estavam vivas! Ele se encheu de medo e cobriu a cabeça com o cobertor.
Não adiantou.
As bonecas se enviaram por baixo das cobertas e puxaram suas orelhas, cada uma de um lado.
- Vamos, temos que ter uma conversinha – diziam as duas.
- Ai meu Deus, cadê minha mãe? – Gustavo começou a chorar.
- Para de chorar menino, sua mãe não vai acordar não, menino chorão! – Sabrina estava bem nervosinha.
- Calma Sabrina – disse Vivi – vamos só levar ele lá pra baixo.
Ainda agarradas as suas orelhas elas arrastavam o pobre do garoto quase até o chão, desceram as escadas e abriram a porta da frente.
A primeira coisa que Gustavo viu quando saiu de casa foi Brutus.
- Me ajuda Brutus – ele gritou.
O cachorro veio correndo em sua direção.
- Agora vocês vão ver suas bonecas metidas!
Mas quando Brutus chegou bem perto ele parou, fez um movimento com a cabeça e, para a surpresa de Gustavo, falou:
- Bom trabalho meninas, prometo que nunca mais vou mastigar vocês.
- Acho bom mesmo seu cachorro – disse Sabrina.
- Deixa disso Sabrina, agora Brutus vamos continuar com os planos.
Gustavo assistia a tudo sem acreditar muito.
- Oh, até tu Brutus! – ele estava inconsolável – O que vocês vão fazer comigo?
- Menino, você está sendo muito malvado conosco, com Brutus e principalmente com sua irmã, aquela menina tão doce que gosta tanto de todos nós, inclusive de você. – falou Vivi.
- É para você aprender a não fazer mais isso que estamos aqui hoje – completou Sabrina – fizemos um acordo com o Brutus, você dorme aqui fora e ele dorme lá dentro, na sua cama.
- Em troca – agora era Brutus que falava – eu nunca mais vou mordê-las. Quando mordia as bonecas eu nunca pensei que estivesse fazendo mal pra alguém, achava que era uma brincadeira, mas essas duas me abriram os olhos.
- Mas aqui fora tem bicho! – Gustavo estava tremendo de medo.
- Você não pensou nisso enquanto seus pais colocavam o coitado do Brutus para dormir aqui fora. Bem, hoje e você quem vai ter uma noite de cão. – Sabrina estava adorando a situação.
- Não! Por favor, eu faço qualquer coisa! – O menino começou a chorar.
As bonecas se reuniram com o cachorro e começaram a cochichar entre si, até que Vivi falou:
- Qualquer coisa?
- Qualquer coisa! – repetiu Gustavo.
- Tudo bem, então prometa nunca mais fazer mal as bonecas ou a qualquer brinquedo da sua irmã.
- Eu prometo, eu prometo!
- Olha que nós voltamos hein, e da próxima vez não seremos tão boazinhas. – falava a todo-poderosa Sabrina.
- E eu estarei sempre por perto – disse o fiel cachorro Brutus.
- Tudo bem – Gustavo já parava de choramingar – eu sempre vou ajudar a Patrícia a cuidar de suas coisas. E você Brutus pode dormir lá dentro.
As bonecas e Brutus pularam de alegria e deixaram o pobre Gustavo voltar para o seu quarto.
Elas se despediram do cachorro e também voltaram para o quarto de Patrícia que dormia como um anjo, as duas bonequinhas de pano subiram devagar na cama e se puseram cada uma de um lado da menina.
Ao amanhecer Patrícia mal podia conter sua alegria ao encontrar Vivi e Sabrina novas e lindas como da primeira vez que as viu.
A partir daquele dia Gustavo nunca mais importunou a irmã, ao contrário se tornou seu melhor companheiro nas brincadeiras e Brutus o cão mais gentil do mundo.
Tudo por causa de um desejo feito a uma estrela.